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ALLAN SMITH

 


                Filho de pais escoceses, nasceu Allan Smith em 1883, em Wellington, capital da Nova Zelândia. Seus pais, Allan e Jeannie Milne, com poucos recursos, migraram para aquele pequeno e simpático país pouco depois do casamento.

                 Allan Smith cresceu como a maioria dos meninos saudáveis, cheio de travessuras e alto astral. Com a vinda de seus irmãos menores Bruce e Douglas, ele se viu em boa companhia para quaisquer façanhas. “Você não deve brigar, Allan”, disse-lhe sua mãe, enquanto ouvia suas histórias no círculo escolar. Mas um dia ele voltou para casa desesperado, procurando ser honesto com sua mãe: “Mãe”, ele explodiu enquanto jogava sua mochila escolar em uma cadeira, “vou ter que brigar. Eu tenho que proteger Douglas.” Allan era aberto e franco em seu caráter, sempre revelando uma ternura viril para com qualquer menino mais fraco que precise do abrigo de sua força. Por trás do amor natural do rapaz, batia um grande e corajoso coração que não veria seu irmão mais novo intimidado.

                Nas noites de inverno, seu pai mostrava aos meninos como construir veleiros em miniaturas, e como fazer as velas exatamente como ele as fez para barcos totalmente equipados na antiga vila de pescadores de Macduff. Com as noites prolongadas primavera, eles iam juntos para a velha Lagoa em Newtown Park para competir em seus modelos de barcos. Essas experiências deram a Allan um amor precoce por embarcações.

                Certo dia, Allan, em companhia de um amigo de infância, foi surpreendido ao ouvir dele: “Vou atirar em você, Smith”, quando Allan, que estava alguns passos a frente do amigo, virou, viu um revólver apontado diretamente para ele e, antes que pudesse entender a gravidade da situação, o menino disparou acidentalmente a arma que seu pai havia deixado descuidadamente carregada sobre a mesa após uma caça. Allan foi atingido no olho, avançando para o crânio e ricocheteando na parte de trás das narinas, cortando as amígdalas. Durante duas semanas, a vida de Allan esteve em jogo. Os médicos não conseguiram encontrar a bala, mas com medo de correr o risco de uma busca prolongada, lutaram bastante por sua vida. A sua condição era tão grave que os cristãos de Newtown reuniram-se diariamente em oração para que os médicos e enfermeiras fossem direcionados pela Mão do Senhor durante todos aqueles dias de ansiedade. Os médicos temiam pela sua recuperação. Então lentamente, muito lentamente, ele se afastou da beira da morte. Nenhum visitante era mais regular que o jovem Bolton que disparou acidentalmente a arma. Todos os dias ele aparecia para perguntar no hospital. Ele agora estava genuinamente chateado e não conseguia fazer o suficiente para mostrar o quanto estava arrependido. “O que você vai fazer com aquele menino quando sair do hospital, Allan,” perguntou o médico um dia. “Eu o perdoo”, foi a resposta. “Não tenho nada contra ele e não acredito que ele possa ter alguma coisa contra mim.” Uma sombra parecia pairar sobre a pequena casa sem a presença alegre de Allan. Contudo, nos propósitos de Deus, isso era um conjunto de circunstâncias que seria para alcançar a mente e o coração daquele jovem.

 

  “Quando fui deixado na beira da estrada, sozinho e sangrando”, disse Allan, “senti que meu fim havia chegado. Como um raio, refleti o meu passado. Meditei tudo que eu sabia da Bíblia, tudo que eu sabia da salvação de Deus, eu não estava preparado para me encontrar com Deus. Meu pecado de rejeitar à vontade, amor e misericórdia de Deus era grande, para morrer sem esperança e minha alma se perder! Minha mente parecia girar. eu estava numa agonia de alma, embora não sentisse nenhuma dor devido ao ferimento de bala.” “Parecia impossível para a habilidade humana efetuar uma cura”, continuou Allan, “No entanto, agradou ao Senhor do céu e da terra responder às orações. Lentamente e continuamente comecei a me recuperar, mas isso não trouxe descanso e paz à minha consciência perturbada. Fiquei pensando no futuro, me perguntando se haveria perdão para um pecador como eu.” “numa tarde, uma pessoa veio até onde eu estava, com a cabeça toda envolta em bandagens, e repetiu, suave e sinceramente aquele texto bem conhecido, João 3:16: 'Porque Deus amou o mundo que Ele deu Seu Filho unigênito, que todo aquele que nele crê não deveria perecer, mas tenha a vida eterna.’ “Ouvi atentamente e absorvi ansiosamente as preciosas palavras. Eu conhecia bem o texto e o repetia muitas vezes. Agora eu ouvia como alguém que percebeu sua necessidade de um Salvador. À medida que as palavras soavam em meus ouvidos, a verdade começou a surgir sobre mim: que Deus me amou de tal maneira que entregou Seu Filho unigênito para ser insultado, e cuspido, e vestido de falsa realeza, e depois crucificado por homens que Ele criou do pó.” “Tal amor destruiu meu coração de pedra e teimoso; Eu cri; reconheci meu Salvador; O Espírito Santo entrou e fez morada e eu nasci de Deus”.

 

                Depois que Allan saiu do hospital, todos os meninos de sua turma notaram uma grande mudança. Antes do acidente, ele era o líder de qualquer travessura que estava se formando, mas ao retornar à escola ele se acomodou para se interessar de verdade em suas aulas, como se a vida para ele tivesse sido preenchida com um novo e forte propósito.

                Numa ocasião em que seu tio visitou a família na Nova Zelândia, foi plantada em seu coração um bondoso propósito, pois alguns dias depois de sua visita, ele enviou uma carta para Allan sugerindo-lhe comprar um olho de vidro, dizendo ainda: “pois Deus pode usá-lo tão bem quanto aquele missionário...” referindo-se a um missionário conhecido que tinha apenas um olho. Allan nunca se esqueceu desse incentivo e surgiu uma visão de serviço missionário e um desejo de ser um homem que o Senhor escolheria para representá-Lo em alguma terra. Quando ele estava saindo da escola, o problema que muitos pais enfrentaram chegou ao Sr. Smith: para que profissão eles deveriam encaminhar Allan? Sua escolha foi carpintaria, talvez arquitetura, então ele foi enviado para o Colégio Técnico por um curto período de curso. Nesta escolha aparentemente simples, ver-se-ia mais tarde a mão orientadora de Deus. Enquanto isso, ele crescia em graça espiritual e experiência cristã. Allan chegou a ajudar seu pai no ramo da marcenaria e, simultaneamente, desenvolveu o hábito de orar por missões, até que passou a orar sobre seu futuro caminho.

                O Senhor cuidava dos detalhes. Numa temporada de verão, Allan e seu amigo Harry Edwards passaram alguns meses no serviço na carruagem bíblica, muito com a época aos colportores. Nessa ocasião, foram convidados pelo Sr. Martin a passar um dia com ele ao ouvir que havia um transporte bíblico na cidade. Foi então que Allan conheceu a filha do Sr. Martin, Maud, que se tornaria sua futura esposa.

Maud Smith em 1916

                Era o momento que Deus estava chamando Allan ao serviço no exterior. A América do Sul era conhecida como “O azarão entre os continentes”. A atenção mundial, que durante tanto tempo se concentrou na fabulosa riqueza do Continente, agora estava se voltando para aquela terra de mistério. Allan havia examinado o mapa e reunido todas as informações possíveis.

                Foi no dia 23 de maio de 1907 que o casal Smith embarcou rumo a América do Sul a bordo do navio SS Corinthic. Desembarcaram em Montevideo, e de lá, numa pequena embarcação, rumo a Buenos Aires, onde em seguida se estabeleceram em Córdoba, no serviço missionário com outros missionários a fim de adaptação. “Começamos no dia 27 de junho”, escreveu Allan aos pais numa carta datada de 19 de julho de 1907. “Nossa roupa consistia em uma carruagem leve, dois cavalos, uma barraca, uma panela e uma chaleira, vários tapetes e um estoque de Bíblias e Novos Testamentos. EU usava calças de montaria e um poncho, uma espécie de sobretudo nativo.” Escreveu ainda: “Estou muito preocupado em saber onde o Senhor quer que eu trabalhe e meus pensamentos sempre se voltam para o Paraguai e o Brasil, dois países ao norte da Argentina. Há muitos índios, e muitas, muitas cidades sem nenhum missionário.” Prosseguiu Allan: “Para chegar a estas partes é necessário um transporte marítimo de vinte pés, já que por terra viajar é muito caro e lento. Muitas centenas de milhas são navegáveis, enquanto cidades grandes e importantes foram construídas perto do rio. Um bom barco permitiria viajar mais de mil milhas para o interior, com menos custo. Escrevi para Tom Wood perguntando quanto custaria construir uma pequena embarcação e enviá-la aqui. Seria grandioso se a Nova Zelândia pudesse ter a honra de construir e enviar o primeiro barco missionário para águas sul-americanas! É um empreendimento, já que nenhum dos outros missionários pensou nos rios como um meio de viajar. Anseio poder falar a língua e levar o Evangelho a lugares onde ninguém jamais foi.”

                Aos poucos, o casal Smith foi se adaptando aos costumes da região. Tiveram o direcionamento aos povos nas matas do Paraguai. Foi de uma pequena aldeia de Franco Viejo que os Smith's finalmente partiram e se instalaram em Villeta para a construção de seu primeiro barco missionário, o “Aurora”, que iria romper as barreiras existentes e provar ser o “luz do amanhecer” de um nobre empreendimento. Allan usou suas habilidades na marcenaria, e seu conhecimento que recebeu de seu pai ao fabricar miniaturas para que ele mesmo construísse o primeiro barco. “Allan está trabalhando duro no tão aguardado lançamento”, escreveu a Sra. Maud Smith. “Ele já está com a quilha e as costelas principais prontas, mas teve dificuldade em conseguir ajustar as curvaturas. É muito trabalhoso quando feito sozinho, e ele anda muito cansado. Essas madeiras são tão duras e resistentes. Allan parece muito bem agora, mas ele só conseguirá madeira muito fraca neste tempo quente.” Cinco meses depois, Allan escreveu: “Estamos com tempo chuvoso, então consegui parar e escrever um pouco, especialmente porque estou terminando com o casco. No momento estou colocando a segunda camada de tábuas.” “Finalmente o casco está pronto”, escreveu Allan aos pais dois meses depois.

Aurora, o primeiro barco dos "irmãos" na América do Sul

                Foi no dia 21 de janeiro de 1914 que o barco “Aurora” foi lançado ao serviço missionário, com seu relato da “Primeira Viagem no Lançamento da Missão ‘Aurora’” abrindo o volume da revista “Echoes of Service”.

                No ano seguinte, o casal Smith precisou tirar licença na Nova Zelândia para cuidar da saúde de D. Maud Smith. A única rota para o país natal era por meio da Inglaterra ou África do Sul, e fizeram a escala por Londres. Era o período da Primeira Guerra e as embarcações estavam cheias com as tropas britânicas, das quais, ouviram o Evangelho.

                Com o retorno da saúde, surgiu uma ampliada visão. O trabalho sul-americano precisava de um barco maior que o “Aurora”. Sr. e a Sra. Smith estavam visitando assembleias por todo o país. Alguns receberam seu relatório com alegria, emocionados por haver uma oportunidade tão grande para a obra de Deus naquele vasto rio. Quando eles novamente deixaram sua terra natal

para a América do Sul, havia £ 700 sob sua guarda para um novo barco (US$ 95.000 na moeda de 2016!). A guerra ainda continuava com fúria inabalável. Praticamente todas as embarcações entre a Inglaterra e a Nova Zelândia foram confiscadas para as tropas e provisões, mas conseguiram reservar passagens através dos Estados Unidos da América, onde planejavam adquirir o maquinário para o novo barco. Só no final de 1917 que desembarcaram em Assunção.

                Foi com verdadeiro sentimento que Allan colocou o “Aurora” a venda. Pois foram durante longos e cansativos meses que ele o construíra. O “Aurora” provou de verdade sua utilidade ao levar a Luz para os nativos, e somente o elevado propósito de um novo barco que possibilitaria um maior alcance, pudesse fazer Allan renunciar a seu barco.

                “Lançado em 1º de fevereiro de 1919, mas ainda não concluído.” Quão animadoras foram essas palavras que apareceram em “Echoes of Service”, sob uma foto de “El Alba”, o segundo navio missionário que cruzou os rios do Paraguai. Nessa ocasião, os missionários Gordon Aish e William Payne viajaram com o casal Smith. “El Alba” percorreu vários lugares, através dos rios paraguaios, bolivianos e brasileiros, levando as Boas Novas, das quais, muitos confessaram ao Salvador. Entre Assunção e Corumbá, existiam aproximadamente duzentos pequenos portos que poderiam ser um acesso a uma cidade ou uma grande fábrica, ou apenas algumas casas na margem. Em 1925, no Mato Grosso, além de Corumbá, puderam se unir aos missionários Henry Howard e esposa e Srta. Hilda Steed.

"El Alba" transportando índios

O casal Smith e os filhos Alfred e Gordon em Corumbá, MT - 1925

                Vinte anos se passaram desde que o pioneiro trabalhador começou a desbravar os rios sul-americanos. Allan Smith, com uma visão cada vez mais ampla, deixou o Paraguai para empreender uma tarefa semelhante no Peru, nas cabeceiras do grande rio Amazonas. Os anos passam. Subindo e descendo as grandes hidrovias do rio Paraguai, o Evangelho foi pregado. Surge a oportunidade para o Sr. e a Sra. Smith partirem para Nova Zelândia em licença. Uma licença proporciona ao missionário algo mais do que descanso; permite que veja seu trabalho a distância, o que muitas vezes fornece uma nova ideia. Com nova visão e impulso para as coisas maiores. Na América do Sul, há outro grande rio, o Amazonas, maior e mais longo que o Paraguai, o que iria requerer um melhor barco. Grandes distâncias apresentam grandes problemas. O vasto Oceano Atlântico fica entre a Amazônia e a Inglaterra. O que seria melhor, construir ou comprar? Todos os prós e contras estavam sendo considerados quando o Sr. Smith percebeu em um fuzileiro naval um barco que parecia o tipo de barco adequado para a Amazônia. Agora era a hora da decisão. Na fé, eles decidiram aceitar. Deus estava movendo os corações dos irmãos nas igrejas para o projeto Amazônia. Uma grande soma de dinheiro. Seiscentas libras para a obra do Senhor. Então o Senhor providenciou “na hora certa” e o proprietário estava disposto a aceitar como seu preço base. Então surgiram novas questões: Como eles conseguiriam atravessar o vasto Atlântico? Seria navegável o suficiente para chegar lá por conta própria? Encontrariam um capitão suficientemente ousado para assumir a responsabilidade? Esses e muitas outras questões aguardavam resposta na Inglaterra. Nesse período, os quatro filhos do casal tiveram que permanecer na Nova Zelândia para os estudos, e o casal foi rumo a Inglaterra, imediatamente para a Bacia Heybridge, onde o barco estava atracado. Deram-lhe o nome de “Isola Bella” e providenciaram um novo motor e aumento no lastro, mas a incerteza de como cruzar o barco pelo Atlântico permanecia. Numa oportunidade em que o Sr. Smith estava dando seu relatório numa assembleia em Glasgow, pediu oração nesse sentido e a necessidade de um capitão para assumir o comando do “Isola Bella” para a viagem ao Atlântico. Após o término da reunião, um homem idoso falou com o Sr. Smith e disse: “Vou levar seu barco para atravessar o Atlântico”. Era o Capitão John Grey, já com a idade de 73 anos e disposto em ajudar. Sua ajuda foi providencial para os testes navegando de Southampton contornando a Costa Leste até Grangemouth e de lá até Clyde, retornando para Southampton. Decidiram então que seria mais prudente que o barco fosse içado e transportado por um transatlântico. Enfim, o “Isola Bella” é lançado no rio Amazonas. Ele percorreu o rio passando pelos povos ribeirinhos e indígenas com destino ao Peru, evangelizando e levando as boas novas!

"Isola Bella" sendo arriado em Manaus, após ser transportado por um cargueiro.

                O casal Smith navegou até se estabelecer em Pucallpa no Peru. Ali se uniram no serviço com o casal Eglington. Em 1934, por motivos de saúde, Sr. Smith ficou impedido de navegar e fixou-se junto a uma tribo indígena em Pucallpa. Foi muito bem recebido pela tribo, ao ponto que os índios o chamavam de ‘Papachuco’, é um termo carinhoso que significa ‘pai de todos’.

                Allan Smith estava pronto para sair novamente em sua missão itinerante, mas não sem antes que chegasse o casal Pent para se estabelecer em Pucallpa e ali, na área urbana, inaugurar um salão para reunião. O Padre proibiu abertamente qualquer de sua paróquia de comparecer, e alguns mais radicais tentaram impedir, a força, a inauguração, porém os oficiais compareceram e participaram da inauguração, garantindo a ordem. À tarde, foi o momento das crianças, onde mais de 180 estiveram presentes, e a noite, Allan Smith pregou para um salão completamente lotado. No dia 4 de novembro de 1934, foi registrada a primeira reunião do partir do pão.

                No ano de 1935, Allan Smith escreveu em seus relatórios dando sinais de fragilidade com sua saúde. Estava adoecido e cansado com anos de trabalho árduo em um clima tropical. O casal Smith voltou para a Nova Zelândia e prestou relatórios em várias igrejas. No dia 11 de junho, quando estava em Hastings, ele adoeceu gravemente sendo levado para o hospital da cidade. Allan Smith foi promovido à Santa presença do Senhor no dia 2 de julho de 1936.

A família Smith em 1928.



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